Sunday, January 07, 2007

Vai trabalhar, vagabond!

A cada dia que passa fico mais impressionado com a indisposição dos parisienses para o trabalho. Hoje, fui mais uma vez vítima desse clima de preguiça coletiva. Aproveitando esse domingo nublado, fui à Bibliotèque François Mitterrand, onde pretendia fazer meu passe anual de cinema - uma esquema genial em que vc paga 18 euros por mês e tem entrada ilimitada a várias salas da cidade. Antes de sair, dei uma olhada no site da empresa que faz o bendito passe, e vi que o stand fecharia às 18:30. Cheguei às 18:10, certo de que voltaria pra casa tranqüilo, com a sensação de missão cumprida. Mero engano meu! Assim que me aproximei do caixa, uma vendedora petulante me disse: "Monsieur, c'est fermé!"

Mostrei a ela a placa indicando que ao caixa só fecharia dali a 20 minutos. Em vão. Ela me disse que, na verdade, o horário de fechamento era 18:00. A partir dessa hora, nenhum outro cliente poderia entrar na fila. Isso seria uma forma de impedir que a mulher do caixa fosse obrigada a atender mais pessoas depois do seu "expediente". Pedi, então para ela chamar o chefe. Me veio um cabeludo arrogante, que já chegou botando banca e dizendo "je ne peux rien faire pour vous, désolé". Este frase é um bordão parisiense, como já pude constatar. Ouví-la numa situação adversa como essa é muito desagradável, vcs podem imaginar. Insisti com o cara, dramatizei a situação, disse que tinha vindo de longe etc. Mas nada adiantou... Indiferente, ele me disse que a culpa era do site, não dele.

Acredito que esse péssimo costume, que ignora os conceitos de respeito ao cliente e mesmo de lucratividade, decorre da dureza do tal "modelo social francês". Nessas horas eu vejo como o engessamento dos horários de trabalho, o custo imenso da mão-de-obra, castram o dinamismo da economia e submete o país um clima de pessimismo preocupante. A famosa jornada de 35 horas, defendida com unhas e dentes pela esquerda francesa, está na raiz de muitos problemas. Quando a candidata socialista, Ségolène Royal, defendeu, num debate, a flexibilização desta regra, todo mundo deu ataque, e começou a chamá-la de neoliberal. Mas acho que ela estava coberta de razão. Tem mais é que botar essa francesada pra trabalhar mesmo...

3 Comments:

At 12:45 PM, Blogger Velma Kelly said...

a gente tem que entrar num curso de ioga. só assim pra aguentar...

 
At 5:46 PM, Blogger Tiago said...

você era menos reacionário no leblon, homem-sunga.

brincadeira. esse assunto aliás, já foi abordado pelo sofá verde há pouco tempo atrás. e, aliás, você deveria linká-lo aqui. nós vamos te linkar de lá.

 
At 11:55 AM, Anonymous Anonymous said...

oi joão!
aqui é seu xará de dia de aniversário, o gerson. beleza? pelo visto confirmando que os velhos clichés sobre os francos eram algo mais que clichés... já vi isso acontecer antes. assim como já vi outros descobrirem que o buraco do socialismo pode ser muito mais embaixo... =D
maneiríssimo seu blog. vou ficar de olho.
esse é o endereço do meu flickr, onde posto imagens da minha coleção/pesquisa sobre a história do design em plástico. estou fazendo um mestrado em História do Design lá na velha ESDI, e tá muito bom. acho que vou encarar um doutorado em algum lugar do mundo depois.
http://www.flickr.com/photos/galessa/
abração!
gerson lessa

 

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