Wednesday, January 10, 2007

Ser de direita na França


Mesmo com alguns vícios chatos, como o que citei no último post, os franceses têm muita lição a nos dar. Digo isso porque, enquanto escrevo, assito a um programa de TV chamado "L´Arène de France", que passa na France 2 toda quarta-feira às 22h40. Nunca tinha visto antes, só escutado falar. Uma surpresa agradável, que me faz confirmar a impressão de que escolhi o lugar certo para morar esses próximos 2 anos.
Cada semana, há dois temas em discussão. O primeiro debate de hoje, que está rolando agora, gira em torno dessa pergunta: "Est-il un tabou d´être de droite?". Só mesmo aqui para haver um programa como este, em um horário nobre! O formato do estúdio é de arena, como propõe o nome do programa. De um lado, estão jornalistas, políticos e escritores de direita. Do outro, representantes dos partidos Socialiste e Comunista Francês.
Apesar do cenário meio cafonão e as piadinhas fanfarronas bem ao gosto dos franceses, a proposta do debate é genial. Existe na França, realmente, uma vergonha de ser de direita. Há, do lado da direita, um jornalista, chamado Eric Brunet que acaba de lançar o seguite livro: "Etre de droite, un tabou français". Segundo ele, esse tabu nasceu depois da Segunda G.M., quando todos os apoiadores do governo colaboracionista de Vichy eram considerados de direita; já os resistentes, eram chamados de esquerdistas.
Outra observação interessante que ele faz. Há 4 campos nos quais a direita é completamente marginalizada aqui na França: cultura, funcionalismo público, mídia e ensino superior. Brunet também lamenta o fato de haver aqui pouquíssimos intelectuais de expressão que assumam ser de direita. A maior parte dos universitários que se sentem de direita vão trabalhar, diz ele, como executivos, advogados etc.
Estudo em uma universidade que, embora tenha sido fundada pelo General de Gaulle - um símbolo da direita francesa, até hoje - ficou conhecida pelo pensamento anti-liberal dos seus professores. Sinto este tabu diariamente, lá na Escola de Jornalismo da Sciences Po. Percebo que, mesmo os meus amigos que vão apoiar o Sarkozy nestas eleições, se recusam a assumir o rótulo de "direitista". Com algum esforço, soltam um "d´accord, je suis libéral"...
No Brasil, há uma moda de se negar essa clivagem política, nascida após a Revolução Francesa. Uma bobagem sem tamanho. A díade esquerda-direita - defendida belamente pelo Norberto Bobbio no livro "Direita e Esquerda" - não morreu, ao contrário do que muita gente anda dizendo. E acho que ela ficará ainda mais clara quando acabar este tabu, que não faz sentido algum. Aqui na França, a direita séria começa a se livrar dessa "honte générale".
Agora, que o debate acaba de terminar, sou levado a pensar o seguinte: muitos dos problemas observados na política seriam evitados se Bornhausen, ACM, César Maia , Inocêncio de Oliveira e Cia. assumissem ser de direita. O tal Centrão, nascido após o fim da ditadura, sobrevive firme forte, justamente pelo fato de não ter uma ideologia definida. O PMDB, uma excrescêcia tupiniquim - e representante maior do Centrão - não resistiria a dois "L´Arène de France"...

1 Comments:

At 8:08 AM, Anonymous Anonymous said...

eu acho que quem é de direita tem mais é que se envergonhar MESMO.

 

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