Tuesday, May 29, 2007

Poema da semana

Problemas del Subdesarollo

Monsieur Dupont te llama inculto,
porque ignoras cuál era el nieto
preferido de Víctor Hugo.

Herr Müller se ha puesto a gritar,
porque no sabes el día
¡exacto¿ en que murió Bismark.

Tu amigo Mr. Smith,
inglés o yanqui, yo no lo sé,
se subleva cuando escribes shell.
¡Parece que ahorras una ele,
y que además pronuncias chel!

Bueno ¿y qué?
Cuando te toque a ti,
mándales decir cacarajícara
y que donde está el Aconcagua,
y que quién era Sucre,
y que en qué lugar de este planeta
murió Martí.

Un favor:
que te hablen siempre en español.


Nicolás Guillén

Madredeus - Oxalá

O Cartola baiano

Sempre que estoura um escândalo desses no Brasil fico me policiando para não entrar num surto depressivo. Uma das minha táticas preferidas é me voltar pro que o país tem de melhor. Ontem, comecei a ler "Incidente em Antares", do gênio Érico Veríssimo. E hoje de manhã, antes de ir para a faculdade, resgatei uma jóia rara que andava mofada nos arquivos do meu computador.
Trata-se do mestre Oscar da Penha, mais conhecido pelo seu singular apelido, "Batatinha". Fazendo uma analogia rasteira e despretensiosa, ele seria uma espécie de Cartola baiano. As obras desses dois monumentos da música brasileira se assemelham bastante. Tanto letra quanto melodia são carregadas de um certo lirismo melancólico que hoje se encontra em extinção.
Suas canções foram interpretadas por Maria Bethânia, Nara Leão, Caetano Veloso e mais uma galera barra-pesada. No entanto, Batatinha não ganhou o reconhecimento que merece, o que, por sinal, é muito comum nesse Brasil de Vercilos, Anas Carolinas e cia. Morto em 1997, Batatinha gravou apenas dois discos solo, "Toalha da Saudade" e "Batatinha: 50 anos de samba". Em 1998, fizeram o disco póstumo "Diplomacia", com outros artistas cantando suas músicas.
Uma das minhas preferidas é a hilária "Jajá da Gamboa", que conta a história de um malandro que arruma uma coroa da alta sociedade soteropolitana e passa a ter uma vida de marajá: "A cabrocha é boa / Apesar de ser coroa / Mas o Jajá da Gamboa / É o dono da situação / Ela lhe dá boa vida / Não é feito a Margarida...". Tem também "Ministro do Samba", uma linda homenagem ao Paulinho da Viola: "Salve Paulinho da Viola / salve a turma da sua escola / o samba bem merecia / ter ministério algum dia / e tu serias ministro / Paulo César Batista Faria".
O que eu acho fantástico nas composições do Batatinha é o fato de elas combinarem, numa dosagem perfeita, a força dos cantos africanos com a dor-de-corno lusitana. Para melhorar, elas foram gravadas com arranjos elegantes, sem aquele cavaquinho de centro - prolixo e às vezes desagradável - que a gente tanto vê no samba carioca. Ouvir Batatinha é mergulhar nas profundezas do Brasil. Lá onde a mediocridade não tem voz nem vez.