Wednesday, January 10, 2007

Boogie-Woogie, Kelson´s e outras...



Os ataques (terroristas ou não!?) perpetrados pelos traficantes cariocas no apagar das luzes de 2006 foram parar num editorial do New York Times de hoje. O jornal conseguiu fazer uma análise equilibrada da situação, mas perdeu a oportunidade de mostrar aos seus leitores como às vezes o nosso Rião pode ser mais "cool" do que a Big Apple. Bastava o editorialista dar uma olhada na lista de favelas que hoje são comandadas pelas milícias - mineiras para os iniciados. Lá, ele encontraria uma seqüência maravilhosa de nomes que deixam no chinelo qualquer Bronx, Queens ou Harlem da vida.
Cito aqui só algumas: Kelson´s, Barbante, Boogie-Woogie e... a famigerada Chatuba de Mesquita! Esta última foi imortalizada, há poucos anos, em um funk trash, que descreve com precisão os seus hábitos alimentares. Mas afinal, o certo é "Chatuba come c... e também come x..." ou "Chatuba come c... e depois come x..."? Um enigma que precisa ser elucidado. O Sérgio Cabral deveria destinar pelo menos uma pequena parte da sua inesgotável energia para resolver por todas esta questão... Quem sabe agora, com a ajuda do Governo Federal e o envio da misteriosa Força Nacional...
Mas a grande surpresa mesmo, que passou desapercebida pelo NYT, foi a tal da Boogie-Woogie. Com certeza, não é em qualquer cidade do mundo que uma favela recebe um nome tão fantástico quanto esse. Queria conhecer um habitante de Boogie-Woogie. Será que ele anda por aí de gumex no cabelo, num daqueles carros rabo de peixe, e uma namorada loura, de saia rodada a tiracolo? Os novo-ricos da Barra devem estar se roendo de inveja por saber que uma comunidade desprovida de Bonsucesso conseguiu achar um nome mais criativo do que os manjados Wimbledom Park ou New York City Center.

Ser de direita na França


Mesmo com alguns vícios chatos, como o que citei no último post, os franceses têm muita lição a nos dar. Digo isso porque, enquanto escrevo, assito a um programa de TV chamado "L´Arène de France", que passa na France 2 toda quarta-feira às 22h40. Nunca tinha visto antes, só escutado falar. Uma surpresa agradável, que me faz confirmar a impressão de que escolhi o lugar certo para morar esses próximos 2 anos.
Cada semana, há dois temas em discussão. O primeiro debate de hoje, que está rolando agora, gira em torno dessa pergunta: "Est-il un tabou d´être de droite?". Só mesmo aqui para haver um programa como este, em um horário nobre! O formato do estúdio é de arena, como propõe o nome do programa. De um lado, estão jornalistas, políticos e escritores de direita. Do outro, representantes dos partidos Socialiste e Comunista Francês.
Apesar do cenário meio cafonão e as piadinhas fanfarronas bem ao gosto dos franceses, a proposta do debate é genial. Existe na França, realmente, uma vergonha de ser de direita. Há, do lado da direita, um jornalista, chamado Eric Brunet que acaba de lançar o seguite livro: "Etre de droite, un tabou français". Segundo ele, esse tabu nasceu depois da Segunda G.M., quando todos os apoiadores do governo colaboracionista de Vichy eram considerados de direita; já os resistentes, eram chamados de esquerdistas.
Outra observação interessante que ele faz. Há 4 campos nos quais a direita é completamente marginalizada aqui na França: cultura, funcionalismo público, mídia e ensino superior. Brunet também lamenta o fato de haver aqui pouquíssimos intelectuais de expressão que assumam ser de direita. A maior parte dos universitários que se sentem de direita vão trabalhar, diz ele, como executivos, advogados etc.
Estudo em uma universidade que, embora tenha sido fundada pelo General de Gaulle - um símbolo da direita francesa, até hoje - ficou conhecida pelo pensamento anti-liberal dos seus professores. Sinto este tabu diariamente, lá na Escola de Jornalismo da Sciences Po. Percebo que, mesmo os meus amigos que vão apoiar o Sarkozy nestas eleições, se recusam a assumir o rótulo de "direitista". Com algum esforço, soltam um "d´accord, je suis libéral"...
No Brasil, há uma moda de se negar essa clivagem política, nascida após a Revolução Francesa. Uma bobagem sem tamanho. A díade esquerda-direita - defendida belamente pelo Norberto Bobbio no livro "Direita e Esquerda" - não morreu, ao contrário do que muita gente anda dizendo. E acho que ela ficará ainda mais clara quando acabar este tabu, que não faz sentido algum. Aqui na França, a direita séria começa a se livrar dessa "honte générale".
Agora, que o debate acaba de terminar, sou levado a pensar o seguinte: muitos dos problemas observados na política seriam evitados se Bornhausen, ACM, César Maia , Inocêncio de Oliveira e Cia. assumissem ser de direita. O tal Centrão, nascido após o fim da ditadura, sobrevive firme forte, justamente pelo fato de não ter uma ideologia definida. O PMDB, uma excrescêcia tupiniquim - e representante maior do Centrão - não resistiria a dois "L´Arène de France"...

Sunday, January 07, 2007

Vai trabalhar, vagabond!

A cada dia que passa fico mais impressionado com a indisposição dos parisienses para o trabalho. Hoje, fui mais uma vez vítima desse clima de preguiça coletiva. Aproveitando esse domingo nublado, fui à Bibliotèque François Mitterrand, onde pretendia fazer meu passe anual de cinema - uma esquema genial em que vc paga 18 euros por mês e tem entrada ilimitada a várias salas da cidade. Antes de sair, dei uma olhada no site da empresa que faz o bendito passe, e vi que o stand fecharia às 18:30. Cheguei às 18:10, certo de que voltaria pra casa tranqüilo, com a sensação de missão cumprida. Mero engano meu! Assim que me aproximei do caixa, uma vendedora petulante me disse: "Monsieur, c'est fermé!"

Mostrei a ela a placa indicando que ao caixa só fecharia dali a 20 minutos. Em vão. Ela me disse que, na verdade, o horário de fechamento era 18:00. A partir dessa hora, nenhum outro cliente poderia entrar na fila. Isso seria uma forma de impedir que a mulher do caixa fosse obrigada a atender mais pessoas depois do seu "expediente". Pedi, então para ela chamar o chefe. Me veio um cabeludo arrogante, que já chegou botando banca e dizendo "je ne peux rien faire pour vous, désolé". Este frase é um bordão parisiense, como já pude constatar. Ouví-la numa situação adversa como essa é muito desagradável, vcs podem imaginar. Insisti com o cara, dramatizei a situação, disse que tinha vindo de longe etc. Mas nada adiantou... Indiferente, ele me disse que a culpa era do site, não dele.

Acredito que esse péssimo costume, que ignora os conceitos de respeito ao cliente e mesmo de lucratividade, decorre da dureza do tal "modelo social francês". Nessas horas eu vejo como o engessamento dos horários de trabalho, o custo imenso da mão-de-obra, castram o dinamismo da economia e submete o país um clima de pessimismo preocupante. A famosa jornada de 35 horas, defendida com unhas e dentes pela esquerda francesa, está na raiz de muitos problemas. Quando a candidata socialista, Ségolène Royal, defendeu, num debate, a flexibilização desta regra, todo mundo deu ataque, e começou a chamá-la de neoliberal. Mas acho que ela estava coberta de razão. Tem mais é que botar essa francesada pra trabalhar mesmo...

Volta aos palcos

Depois de ouvir muita queixa sobre estado de abandono a que tinha submetido esse blog - logo após seu nascimento - volto a publicar aqui algumas reflexões diárias minhas . Não posso prometer assiduidade absoluta, porque o tempo é escasso aqui em Lutécia. Mas sempre que possível, deixarei uma gracinha pra vocês. Voltar a escrever no blog faz parte do meu plano de metas pra 2007. Ótimo ano novo para todos!